Lembro que
Sentava no teu colo
Nas tardes em que te visitava
Certa vez
Vestia tecido floral
Que inspirava brandura
Era como leito no desalinho
Do tempo apressado
Aconchegado de rugas
Da tua doçura
Lembro o cheiro de alfazema
Diluindo as inquietudes
Que se misturavam
Às tuas cantigas
Em imagens coloridas
O tempo passa, vó
Feito teu talco
Que se espalhava depois do banho
Ficaram as sensações de cores, cheiros
Sabores da tua passagem
E não te alcanço
Com minhas vistas
Sinto saudade
De vê-la assim, na cadeira
Espreguiçada
Vê-la Senhora
Testemunha da vida
Escritora de obra inacabada
Ainda te vejo
Com olhar tão distante e sereno
Despreocupada
Como quem já tivesse
Desfeito os laços
E de malas arrumadas
Esperasse apenas a despedida...
MARIS
Foto de 1918 - Restaurada por Guilherme Motta. Foto de Antônia Maria Motta
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