domingo, agosto 23, 2009

LUA DE CECÍLIA





Não que eu
me compare à Cecília
Em seus canteiros
por onde corria

Nem mesmo ao retrato
Em imagem envelhecida
Dessa alma tão bela
Nos tons pastéis
Do desencanto

À sua canção
E murmúrios
Espalhados
Em versos

Mas
Me percebo
Lua
De fases
Por ela
Anunciada

Que
Deixa
Rastros
Entre mortes
E surgimentos

Engravidando
Minguando
Crescendo

Aborto
em
Movimentos

Num silêncio
Misterioso
De quem
vive
Se
metamorfoseando

E entre espasmos
Uma dor uterina
Se derrama

Ah, Cecília
Não
Me basto
Das
Explosões
De luzes

Me fazem falta
Outras fases,
As explosões do amor

Maris




Não te aflijas com a pétala que voa:
também é ser, deixar de ser assim.


Rosas verá, só de cinzas franzida,
mortas, intactas pelo teu jardim.


Eu deixo aroma até nos meus espinhos
ao longe, o vento vai falando de mim.


E por perder-me é que vão me lembrando,
por desfolhar-me é que não tenho fim.
Cecília Meireles



Lua adversa

Cecília Meireles

Tenho fases, como a lua
Fases de andar escondida,
fases de vir para a rua...
Perdição da minha vida!
Perdição da vida minha!
Tenho fases de ser tua,
tenho outras de ser sozinha

Fases que vão e que vêm,
no secreto calendário
que um astrólogo arbitrário
inventou para meu uso.

E roda a melancolia
seu interminável fuso!
Não me encontro com ninguém
(tenho fases, como a lua...)
No dia de alguém ser meu
não é dia de eu ser sua...
E, quando chega esse dia,
o outro desapareceu...

2 comentários:

Anônimo disse...

Adoro esses diálogos com intertextos. Tua arte é linda e singular. beijo

Maris Figueiredo disse...

Sacha
Obrigada pelo carinho com que me lê!
beijo