Não que eu
me compare à Cecília
Em seus canteiros
por onde corria
Nem mesmo ao retrato
Em imagem envelhecida
Dessa alma tão bela
Nos tons pastéis
Do desencanto
À sua canção
E murmúrios
Espalhados
Em versos
Mas
Me percebo
Lua
De fases
Por ela
Anunciada
Que
Deixa
Rastros
Entre mortes
E surgimentos
Engravidando
Minguando
Crescendo
Aborto
em
Movimentos
Num silêncio
Misterioso
De quem
vive
Se
metamorfoseando
E entre espasmos
Uma dor uterina
Se derrama
Ah, Cecília
Não
Me basto
Das
Explosões
De luzes
Me fazem falta
Outras fases,
As explosões do amor
Maris
Não te aflijas com a pétala que voa:
também é ser, deixar de ser assim.
Rosas verá, só de cinzas franzida,
mortas, intactas pelo teu jardim.
Eu deixo aroma até nos meus espinhos
ao longe, o vento vai falando de mim.
E por perder-me é que vão me lembrando,
por desfolhar-me é que não tenho fim.
Cecília Meireles
Lua adversa
Cecília Meireles
Tenho fases, como a lua
Fases de andar escondida,
fases de vir para a rua...
Perdição da minha vida!
Perdição da vida minha!
Tenho fases de ser tua,
tenho outras de ser sozinha
Fases que vão e que vêm,
no secreto calendário
que um astrólogo arbitrário
inventou para meu uso.
E roda a melancolia
seu interminável fuso!
Não me encontro com ninguém
(tenho fases, como a lua...)
No dia de alguém ser meu
não é dia de eu ser sua...
E, quando chega esse dia,
o outro desapareceu...
seu interminável fuso!
Não me encontro com ninguém
(tenho fases, como a lua...)
No dia de alguém ser meu
não é dia de eu ser sua...
E, quando chega esse dia,
o outro desapareceu...