quinta-feira, outubro 29, 2009

REFRIGÉRIO

Bom, este poema que fiz, achei definidor de ao menos um lado do gênio, da personalidade desta mulher super bacana, metaleira doida (num bom sentido é claro, no melhor), mas acima de tudo um encanto de pessoa. Lá vai:

REFRIGÉRIO

James Vasconcellos de Lima

Eu tenho um pássaro cansado
sobre os caminhos de minha palma.
Eu tenho duas asas brancas
que ao deslizarem sobre a alma
refrigeram os sonhos brandos.

Eu tenho, desde sempre, arado
o campo vasto das verdades.
Parece até que os rios deixaram
de andar entre estas pastagens
esverdeadas e sombrias.

E o pássaro cansado bate
as asas, viajando ao leito
do êxtase total, entre a palma
que nunca se abre e o peito
que pranteia ao pôr da vida.

18. IX. 08

segunda-feira, outubro 26, 2009

ANGÚSTIA




Ando correndo tanto, rascunhando a vida... Que talvez eu não tenha tempo de passar a limpo. E quando paro, coisa quase improvável, sinto ainda mais a angústia de quem se distancia mesmo que esteja se buscando.
A sensação é que vivo só de ensaios, quando no fundo há um frio na alma de quem sempre está estreando.


Maris

Esquecimento




É curioso como a gente se esquece por aí.
Ontem, me encontrei numa gaveta: envelopes com cartas amareladas pelo tempo, cartões de aniversário e uma lista de prioridades para o ano...




Maris

segunda-feira, outubro 12, 2009

EU









Me armo tempestades
Desabo sobre calçadas
Que deslizam sonhos e
Evaporam no ar...

Me aconchego rede
Sob a luz dos postes da estrada
Em madrugadas frias
De varandas e quintais,
Devassada...

Me entrego lua
Apesar da possibilidade
Do desencontro e
Adormeço ao sol da despedida...


Escorro água
Entre os dedos tolos
Que tentam
Dominar...


Entre tantas, tantas sou
E não encaixam


Hoje, sou eu mesma
Destituída
Por essa outra que encontro


Ah, tenho dito ao espelho
Te amo!
Quando me acho...

Começo a perceber
Na vida, essas
Que ainda ensaio...

Eu me sabendo
A cada dia...
Aprendo a respeito
Das feridas
Que me curaram


Maris


"Eu estava rusticamente guardada em minhas cascas espessas" Maris





domingo, outubro 11, 2009

ACALANTO






Lembro que
Sentava no teu colo
Nas tardes em que te visitava

Certa vez
Vestia tecido floral
Que inspirava brandura

Era como leito no desalinho
 Do tempo apressado
Aconchegado de rugas
Da tua doçura


Lembro o cheiro de alfazema
Diluindo as inquietudes
Que se misturavam
Às tuas cantigas
Em imagens coloridas


O tempo passa, vó
Feito teu talco
Que se espalhava depois do banho
Ficaram as sensações de cores, cheiros
Sabores da tua passagem
E não te alcanço
Com minhas vistas

 Sinto saudade
De vê-la  assim, na cadeira
Espreguiçada


Vê-la  Senhora
Testemunha da vida
Escritora de obra inacabada


 Ainda te vejo
Com olhar tão distante e sereno
Despreocupada

Como quem já tivesse
Desfeito os laços
E de malas arrumadas
Esperasse apenas a despedida... 


MARIS 

Foto de 1918 - Restaurada por Guilherme Motta. Foto de Antônia Maria Motta