segunda-feira, setembro 21, 2020

PELA HERANÇA DE HERDAR-ME

Obrigada pela herança

De herdar-me assim

Alma descabelada

Como quem acorda

Assustada

Sempre atrasada

Pra mais uma lida

Uma aventura

Mais um dia

Uma oportunidade


Tão louca

Tão tosca

Tão eu, tão minha


Nas tentativas

De melhorar-me os traços

As luzes, tons e timbres


Ser tão minha

Ainda em construção


Obrigada pela herança de

Herdar-me

Em som

Nestes sons de toda a parte

Dessa natureza viva 

Que transcende 



Obra inacabada

De beleza inexata

Daquelas que não  se percebe

Em uma única visão

É preciso conviver, viver vária vezes

Aproximar-se, aproximar-me

Distanciar-se, distanciar-me

Ampliar a percepção


Obrigada

Por herdar-me

Em construção

Ser poesia sem fim

Nessas tantas pandemias


Desde as chagas do meu orgulho doentio

Ao egoísmo cortante que

Vou extirpando 

Num tratamento lento

Mas consciente

Do que ainda se é

E do que se deseja ser


Por herdar-me

Cocriadora e ser criatura

Me sentir livre

Por me pertencer

Sem nenhuma matemática

Que me calcule.

Sem fórmulas químicas

Que me simulem

Sem geografia que 

Me localize 

Nem História que me conte

Exceto a que escrevo

Junto a ti


 

Obrigada

Junto a tua confiança

Por se eu mesma

Minha herança

De que já, revelando-me

Sou esperança

Que caminha do que estou para

Aquilo que plenamente

Hei de ser


Maris Figueiredo

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